O nosso dia-a-dia ainda não nos pertence por completo. Passamos horas e horas a trabalhar e outras tantas a tentar encaixar o que queremos com o que parecemos. Ter uma educação formal, arranjar um bom emprego, casar ou reproduzir a espécie: quando é que vamos fazer estas e outras coisas porque realmente nos apetece, a partir das nossas identidades e diferenças mas sempre em conjunto?
E como organizar a destruição da sociedade em que vivemos sem conversarmos um pouco antes? Não queremos ter uma conversa com base no lucro, no castigo ou na autoridade. Preferimos a alegria em vez do medo, a paixão em vez do ressentimento e o amor em vez do poder. Queremos construir um espaço onde seja possível a inspiração e a expressão pessoal, construindo ao mesmo tempo uma rede comum, sem as manias da política especializada e da arte institucional. Queremos que a arte se transforme nas nossas vidas, a cada segundo que passa.
Talvez algum dia deixemos de ter que trabalhar horas a fio para poder comer, alugar uma casa e passar uns dias de férias algures, se der. Talvez algum dia chegue o momento em que cada qual será livre de fazer o que bem entende com a sua própria vida, sem que isso incomode quem quer que seja. Mas nenhuma pessoa será livre se não o forem também todas as outras. Nenhuma instituição ou governo nos vai conceder esse prazer de mão beijada, no entanto. A nossa emancipação, se a alcançarmos algum dia, destas vidas que temos que não são bem nossas, será obra das nossas próprias mãos. Não vai depender de mais ninguém nem de nenhuma cartilha, mas sim da nossa autonomia.
O que esperamos é que apareça uma multidão de forças, mesmo que assumidamente pequenas como a nossa, neste desejo de pôr a conversa em dia. Esta vamos tê-la numa terra comum, a península ibérica. É aqui que vivemos e agora que nos apetece conversar. Mas podia ser em qualquer lado e noutro momento qualquer!