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A NOSSA LIBERDADE ESTÁ INCOMPLETA SEM A PALESTINA

Após dois anos de genocídio (sem contar com os 75 que os precederam), vários países decidiram seguir o exemplo da França — Portugal não foi exceção para variar — e reconhecer a Palestina como Estado. Nem sanções, nem embargo militar ao Estado genocida, não… reconhecimento da Palestina. Reconhecimento este, que foi formalizado durante a assembleia geral das Nações Unidas em Setembro, nos Estados Unidos da América (EUA), país sem o qual Israel não existiria como existe hoje. EUA que, também, decidiram revogar os vistos aos representantes da Autoridade Palestiniana, liderados por Mahmoud Abbas, impedindo-os desta forma de estarem presentes fisicamente para assistirem em pessoa ao reconhecimento do seu Estado pelos ocidentais.

Um reconhecimento cheio de condições como bom colonizador quer. Uma das condições para que o reconhecimento se torne efectivo, é a de que a Palestina não poderia ser militarizada de forma a garantir a segurança de Israel. Portanto, a Palestina passaria a ser o único Estado no mundo sem forças armadas. O anti-militarismo no mundo inteiro é desejável, mas é pela Palestina que se começa?

Ora vejamos se percebemos bem: o Estado que comete um genocídio em directo nos nossos ecrãs de bolso durante dois anos, matando indiscriminadamente mulheres, homens e crianças inocentes, tem o direito de manter o seu poderio militar e até de aumentá--lo. Por outro lado, o Estado que é vítima de genocídio (e de quase 8 décadas de ocupação ilegal), não tem o direito de se defender, mesmo tendo como vizinho o próprio Estado que massacrou a sua população?

Temos de supor então, que, este Estado Palestiniano não armado terá de confiar na boa fé de Israel?

Basta olhar para como Israel tem “respeitado” o cessar-fogo em Gaza, matando quase 500 palestinianos desde que este entrou em vigor, ou até para o Líbano, que Israel bombardeia todos os dias desde esse outro cessar-fogo, para ver como os israelitas não são de confiança.

Basta olhar para como Israel tem “respeitado” o cessar-fogo em Gaza, matando quase 500 palestinianos desde que este entrou em vigor, ou até para o Líbano, que Israel bombardeia todos os dias desde esse outro cessar-fogo, para ver como os israelitas não são de confiança.

A Palestina é a vítima, Israel é o agressor e prova-o todos os dias, atacando quem quer, quando quer; e fá-lo porque sabe que não há consequências para as suas ações. Por conseguinte, os palestinianos têm o direito de se defender dessa ameaça constante, é aliás imperativo que o façam para garantirem algum semblante de segurança.

Que as coisas sejam claras: apesar de uma comunicação social altamente enviesada sobre este assunto (para o lado de Israel claro está), o ataque do Hamas a 7 de Outubro de 2023 (cujo número de vítimas mortais israelitas aumentou claramente depois das forças de defesa de Israel terem activado a “Hannibal Directive”) foi um acto de resistência contra um opressor que destruiu a vida de gerações e gerações de palestinianos durante 75 anos, cometendo crimes contra a humanidade contra esse povo com o consentimento da comunidade internacional. A resistência armada contra a opressão é um direito. Apesar de dois anos de genocídio incontestável e injustificável por parte de Israel, o Hamas é que é considerado terrorista por parte do ocidente. Mas o Hamas, mesmo sendo reacionário e conservador, foi a única organização que fez o que qualquer ser faz quando é atacado e quando a sua vida está em perigo: defendeu-se. Neste caso, defendeu o seu povo.

A resistência francesa também era considerada terrorista pelos nazis durante a segunda guerra mundial, tal como a resistência no gueto de Varsóvia na mesma altura. Como eles, Nelson Mandela também foi considerado terrorista pelo Estado racista da África do Sul do Apartheid e acabou por tornar-se presidente desse mesmo país.

Relembremos esta famosa frase de Mandela: “ontem fui chamado terrorista, mas quando saí da prisão, muitas pessoas me abraçaram, inclusive os meus inimigos. E é isso que costumo dizer a outras pessoas que afirmam que aqueles que lutam pela libertação no seu país são terroristas”.

Ou esta: “Sabemos demasiado bem que a nossa liberdade está incompleta sem a liberdade dos palestinianos”.

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José Torres