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EMPRESAS POLÍTICAS: PARA ALÉM DO COOPERATIVISMO

La Villana de Vallekas (A Vilã de Vallekas, situada nesse bairro de Madrid), é um centro social que deu um salto: pagávamos renda e agora comprámos coletivamente um espaço, o que transferiu os nossos debates para a comunidade. A nossa pergunta já não é onde nos reunimos mas sim como sustentar a nossa comunidade em luta. Queremos converter-nos numa rede de estruturas populares que articule todas as dimensões da vida — habitação, feminismo, educação, alimentação — complementada com projetos de autoemprego a que chamamos «empresas políticas». Estas empresas — uma taberna e uma livraria — procuram reforçar a nossa infraestrutura económica e gerar espaços de autoemprego que permitam dedicar-se à militância sem depender do mercado assalariado. Mas surge a pergunta fundamental: o que faz com que uma cooperativa seja verdadeiramente política?


O primeiro erro seria o fetichismo da forma cooperativa. Assumir que ser uma cooperativa já nos torna radicais é perigoso: reduz toda a ação política a manter o projeto economicamente. Como alertam Emmanuel Rodríguez e David Gámez, o cooperativismo tende a fechar-se numa «cápsula autossuficiente» que gera um «défice de politicidade». Porque o que politiza uma empresa não é a sua forma jurídica mas sim as suas práticas. Na minha cooperativa, a livraria malaletra, tomámos decisões que limitam a nossa rentabilidade mas reforçam o coletivo: acolher a biblioteca do coletivo feminista Ariskas, mesmo que isso reduza as vendas, manter grupos de leitura gratuitos, desenvolver software livre de gestão para criar arquivos comuns com outras livrarias…


A chave para a politicidade de uma empresa (pelo menos, duma num centro social) está na sua relação com os restantes coletivos. Como diz a Traficantes de Sueños, uma livraria e editora em Madrid: «É a interdependência com os movimentos que permite que o projeto seja sustentável». As empresas devem ser ferramentas ao serviço da comunidade, não projetos autónomos que apenas partilham espaço e doam lucros. Isto requer democratizar radicalmente as decisões: que os coletivos proponham que livros ter, que debates organizar, quem convidar. Um cooperativismo expandido no qual a propriedade não recaia apenas sobre quem trabalha, mas sim sobre toda a rede.


Construir empresas políticas é um laboratório para explorar uma economia alternativa a partir de baixo, onde as cooperativas não sejam fins em si mesmas, mas meios para potenciar a auto-organização e expandir as nossas capacidades de transformação.

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javier correa román