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CANTAR A AMIZADE

Sozinha não sei, mas com amigas garanto-te que tudo é mais fácil.


Hoje queremos cantar a amizade e erguê-la como bandeira todos os dias e todos os anos. Uma bela desculpa para nos amarmos e admirarmos a partir de um olhar consciente e crítico, como quando a tua avó vai confirmar se o bolo está bem cozido. É a importância de criar a tua própria rede e garantir que a cuidas e que te cuidem.


A amizade em que as protagonistas são mulheres, que se pode tornar numa teia de amor, segurança, limites e cuidados, apesar de o patriarcado tentar destruí-la. Ser amiga é apoiar, é dizer: cuidado, não é por aí. Não gosto quando ele te fala assim. Amo-te. Ouvir os teus gritos, os que fazem barulho e os que não fazem. Entre nós, podemos ajudar-nos a perceber o nosso valor. É um empoderamento mútuo. As lógicas do machismo muitas vezes empurram-nos a pôr as nossas amigas de lado ou nem sequer considerar manter e fazer florescer as nossas amizades, porque temos que nos dedicar a outras coisas.


A nossa rede de amizades, a família que deveríamos ter o direito a escolher, pode tornar-se no motor da nossa vida. Desde trazer-nos um tupperware a casa quando não nos conseguimos levantar da cama até levar a nossa criança ao parque. É tomar conta de nós quando a vida nos satura. Um passeio pelo bairro, rir e pôr a conversa em dia: Amiga, acompanha-me ao mercado ou acompanha-me a abortar. Seja o que for, mas acompanha-me. Acompanhar; juntar ou agregar algo a outra coisa. A solidão agrega-se à companhia e daí podem nascer os mais belos amores, aqueles que percorrem as amigas num mundo cheio de violências contra mulheres e meninas. Com amigas, a vida não se faz tão dura.


Querem-nos dispersas, obrigam-nos a escolher para que lado colocar o amor na balança. Não queremos balanças, queremos que o mundo pare quando nos falta uma amiga, quando nos é arrancada pelas mãos de homens que não estão doentes, mas que são filhos saudáveis do patriarcado. Queremos gritar e arder em raiva quando as nossas amigas sofrem por causa de homens e instituições que não querem cuidar nem tratar com dignidade. Queremos deixar de contar mil vezes a nossa história e não ser julgadas se não cumprirmos o papel de vítima perfeita para que acreditem em nós.


Por isso, hoje colocamos o foco na amizade entre mulheres, nos cuidados, na sororidade, no amor horizontal, o que acompanha e cuida. Cuidam de mim e cuido das minhas amigas, num mundo onde não se cuida das mulheres. Estas amigas que escolho e com quem continuo a tecer a minha rede apesar de o mundo se empenhar em separar-nos e desbaratarnos os fios.

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Marieta Linares Montero